Green Acres
Acabo de chegar da aldeia. Fui lá passar a Páscoa. A aldeia é porreira. O cenário bucólico deve ser algo parecido com a leveza de espírito com que passei as tardes a jogar à sueca no café.
Acontecem coisas formidáveis como, por exemplo, o meu parceiro de sueca tirar a boina da cabeça em jeito de cumprimento e oferecer uma cadeira a um recém-chegado, convidando-o a beber um copo de vinho. E num ambiente destes de partilha, por vezes, o conviva sente-se perfeitamente à vontade para responder “Bebo sim senhor, mas não me sento por causa das hemorróidas”.
Neste espírito de plena comunhão e fraternidade, disperso o pensamento, por uns instantes, e pergunto se não deveria associar-me a esta irmandade, deixar de lado as minhas idiossincrasias, pelo menos por uns dias e, no domingo, beijar a cruz, eu que nem sou de ir a igrejas. Tudo para me sentir parte deste grupo de homens simples e partilhar um sentimento de afinidade e de pertença. Quase me comovo com esta gente, no entanto, não consigo deixar de pensar se realmente desejo que a única entidade que separa a minha boca da boca das velhotas com buço seja uma cruz de Cristo, ainda que desinfectada com álcool etílico (ou será bagaço?).
Por azar, calhou nascer um puto lá na aldeia há semanas. É certo e sabido que a avó babada andará com ele ao colo apresentando-o a toda a população. E um gajo tem que se mostrar pelo menos tão entusiasmado como a recém-avó. Mesmo que não a conheçamos, é certo que virá apresentar-nos o rebento. Eu nem me importo muito de fazer aquelas caretas e falar com um vozinha estridente, armado em anormal, tal como um gajo tenta comunicar com um cão, porque é assim que se aborda um recém-nascido. Do género: “Tu é um mauquito! Quer coinho? Quer coinho? Pitxi pitxi pitxi!” O pior é quando a avó não se dá por contente e insiste: “Já agora, ó menino, diga-me lá, com quem acha o meu netinho parecido?” Antigamente ficava acabrunhado, até porque acho que todos os bebés são parecidos entre eles, mas nunca com os adultos. Contudo, começo a ponderar responder: “Acho-o parecido consigo, talvez porque tanto o seu neto como você não têm dentes.” Posso ser um bocado ríspido, mas já várias vezes me questionei se nestes locais existirá um único ser que tenha conseguido reunir, ainda que por um curto período de tempo, 32 dentes na boca.
Uma das coisas boas das aldeias é quando dá um jogo de futebol na tv. Eu tive oportunidade de assistir ao Sp. Braga x Sporting com malta rija. Eles só não se lembraram de inventar o cântico “You´ll never walk alone” como homenagem ao Sporting porque não sabem inglês. Os “hooligans” ao pé deles são meninos. Não que partam tudo o que lhes aparece pelo caminho, pelo contrário, até são bem ordeiros, mas vociferam, de tempos a tempos, impropérios cirúrgicos. Eu acho que se o Carlos Martins ouvisse “Devias era subir a um pau com sebo, escorregares e enfiá-lo no cú” deixar-se-ia de merdas e começaria a jogar futebol de uma vez por todas. E depois há sempre alguns elementos da equipa de futebol da terra que milita no torneio do Inatel que garante que com umas minis em cima é que se joga melhor e que o futebol é uma máfia porque se lhes têm dado a oportunidade eram eles que andavam de Porsche e o Tello, o Alecsandro e o Bueno de capacete de cauda de raposa ao volante das suas Famel ou Zundapp.
Acontecem coisas formidáveis como, por exemplo, o meu parceiro de sueca tirar a boina da cabeça em jeito de cumprimento e oferecer uma cadeira a um recém-chegado, convidando-o a beber um copo de vinho. E num ambiente destes de partilha, por vezes, o conviva sente-se perfeitamente à vontade para responder “Bebo sim senhor, mas não me sento por causa das hemorróidas”.
Neste espírito de plena comunhão e fraternidade, disperso o pensamento, por uns instantes, e pergunto se não deveria associar-me a esta irmandade, deixar de lado as minhas idiossincrasias, pelo menos por uns dias e, no domingo, beijar a cruz, eu que nem sou de ir a igrejas. Tudo para me sentir parte deste grupo de homens simples e partilhar um sentimento de afinidade e de pertença. Quase me comovo com esta gente, no entanto, não consigo deixar de pensar se realmente desejo que a única entidade que separa a minha boca da boca das velhotas com buço seja uma cruz de Cristo, ainda que desinfectada com álcool etílico (ou será bagaço?).
Por azar, calhou nascer um puto lá na aldeia há semanas. É certo e sabido que a avó babada andará com ele ao colo apresentando-o a toda a população. E um gajo tem que se mostrar pelo menos tão entusiasmado como a recém-avó. Mesmo que não a conheçamos, é certo que virá apresentar-nos o rebento. Eu nem me importo muito de fazer aquelas caretas e falar com um vozinha estridente, armado em anormal, tal como um gajo tenta comunicar com um cão, porque é assim que se aborda um recém-nascido. Do género: “Tu é um mauquito! Quer coinho? Quer coinho? Pitxi pitxi pitxi!” O pior é quando a avó não se dá por contente e insiste: “Já agora, ó menino, diga-me lá, com quem acha o meu netinho parecido?” Antigamente ficava acabrunhado, até porque acho que todos os bebés são parecidos entre eles, mas nunca com os adultos. Contudo, começo a ponderar responder: “Acho-o parecido consigo, talvez porque tanto o seu neto como você não têm dentes.” Posso ser um bocado ríspido, mas já várias vezes me questionei se nestes locais existirá um único ser que tenha conseguido reunir, ainda que por um curto período de tempo, 32 dentes na boca.
Uma das coisas boas das aldeias é quando dá um jogo de futebol na tv. Eu tive oportunidade de assistir ao Sp. Braga x Sporting com malta rija. Eles só não se lembraram de inventar o cântico “You´ll never walk alone” como homenagem ao Sporting porque não sabem inglês. Os “hooligans” ao pé deles são meninos. Não que partam tudo o que lhes aparece pelo caminho, pelo contrário, até são bem ordeiros, mas vociferam, de tempos a tempos, impropérios cirúrgicos. Eu acho que se o Carlos Martins ouvisse “Devias era subir a um pau com sebo, escorregares e enfiá-lo no cú” deixar-se-ia de merdas e começaria a jogar futebol de uma vez por todas. E depois há sempre alguns elementos da equipa de futebol da terra que milita no torneio do Inatel que garante que com umas minis em cima é que se joga melhor e que o futebol é uma máfia porque se lhes têm dado a oportunidade eram eles que andavam de Porsche e o Tello, o Alecsandro e o Bueno de capacete de cauda de raposa ao volante das suas Famel ou Zundapp.
1 Comments:
“Devias era subir a um pau com sebo, escorregares e enfiá-lo no cú” eh eh eh um clássico instantâneo. A imaginação dos teus conterrâneos é qualquer coisa de extraordinário.. sem palavras, genial!
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