António Ramos Rosa
"Muitas vezes ia ao Campo Pequeno. Uma vez fui lá para me sentar ou para passear. Estava cheio de gente a conversar ou a ler os jornais. Fui para um recanto mais pequeno, onde não estava ninguém. Eu gostava muito de estar a olhar para uma árvore e não estar a pensar. Não lia o jornal, nem nada. Sentei-me no banco e estava com a mão em cima da travessa superior, com as costas da mão para cima. Não sei se isso tem algum significado. A certa altura um pardal veio pousar uns centímetros adiante da minha mão. Eu pensei como seria interessante se o pobre pardal pousasse em cima da minha mão. E o pardal realmente, daí a uns segundos, deu um salto para a minha mão. Continuei imóvel. O pardal não ficou por aí. Começou a subir-me pelo braço esquerdo, depois pousou no ombro um bocadinho, deu a volta às minhas costas, e pousou no lado direito. Mas também não ficou por aí. Deu um salto para a minha cabeça e começou a debicar na minha cabeça. Aí está um acontecimento inexplicável, em que há um pardal que vem ter comigo e eu senti-me assim relacionado com o universo de uma maneira que não aconteceria a conversar com qualquer pessoa ou a ler o jornal. É uma coisa insignificante ou insignificável."
António Ramos Rosa, em entrevista à revista Única, do Expresso, a 6 de Agosto de 2005.
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