sexta-feira, setembro 16, 2005

Tremoços


Vamos ao que realmente interessa no futebol: OS TREMOÇOS. O Eusébio chegou a apelidá-los de marisco, em jeito metafórico, embora tenha sido mal interpretado e, ainda hoje, seja ridicularizado devido a esse facto. Nunca gostei muito de futebol, mas era um pretexto para comer tremoços. Ia ver um jogo ao vivo e só me preocupava em comprar tremoços. Achava giro regateá-los com a senhora dos tremoços, só mesmo por caturrice. Agora, é uma vergonha o que estão a fazer ao futebol português. Estão a “americanizá-lo”. Já só vendem cachorros e hamburgers nos estádios. Esta merda não é a final do “Superbowl” (tirando os jogos das equipas do Jaime Pacheco) e neste país a Janet Jackson pode mostrar o mamilo as vezes que quiser! Bem, mas devem ter banido os tremoços por causa das cascas sujarem as bancadas. Pois, eu estava-me borrifando para isso. Eu pagava bilhete não era para ver a bola, era para alguém, no fim do jogo, limpar a esterqueira que eu fazia. Se não fosse por isso, podia muito bem comê-los em casa, olha que porra!
Bem, falando então desse elemento essencial ao jogo.
Os tremoços são apenas as sementes de uma planta dicotiledónea da família das Leguminosas (Leguminosae), da qual também fazem parte os feijoeiros (Phaseolus spp. e Vigna spp.), a faveira (Vicia faba L.), a ervilheira (Pisum sativum L.), o grão-de-bico (Cicer arietinum L.), a lentilha (Lens culinaris)… enfim, todas essas cujo fruto é uma vajem e a flor papilionácea, as comestíveis e muitas outras não comestíveis (como as giestas, os tojos [Ulex L. spp.], as olaias [Cercis spp.], os trevos [Trifolium L. spp.], as joinas [Ononis L. spp.] etc.…). Mas afinal por que raio só nos dão a comer tremoços demolhados? É que os tremoços são muitíssimo tóxicos para nós e para outros mamíferos se não levarem qualquer tipo de tratamento. O povo foi sábio, nesse aspecto, e descobriu que deixando os tremoços em água corrente durante determinado período de tempo, estes passavam a ser comestíveis. A intoxicação traduz-se por uma sintomatologia anticolinérgica: midríase, taquicardia, hipotensão, mucosas sêcas, retenção urinária. Os casos mais ligeiros apresentam náuseas, vómitos e tonturas, dores abdominais e depressão respiratória. Isto, porque as sementes dos tremoceiros e tremocilhas (Lupinus spp.) têm um elevado teor em alcalóides, como a anagirina (altamente tóxica, cardiotónica e teratogénica), a esparteína, a lupanina, a luteona e a wighteona. A toxicidade desaparece, pois, com a ebulição em água ou colocando os tremoços durante algum tempo em água salgada, mas a água de demolhar o tremoço também é tóxica! Como se não bastasse, os tremoços podem, eventualmente, ser também responsáveis pela intoxicação que se denomina “lupinose”, não por outro constituinte químico da planta, mas pela micotoxina produzida pelo fungo Phomopsis leptostromiformis que os ataca. É só um alerta para o facto de nem tudo o que é produto natural/vegetal e macrobiótico ser inócuo…

Para terminar, deixo-vos com uma receita que estou a pensar levar ao “SIC 10 horas”.
Põe-se massa a cozer. Qualquer massa, a vossa preferida. Eu usei rigattoni. Aconselho, porque me aconselharam uma vez.
No copo de uma picadora deita-se o conteúdo de uma lata de atum (gosto de Calvo claro) e umas boas três colheres de maionese (gosto de Helmanns, embora esta treta de se passar a chamar Vianeza talvez me leve a comprar outra marca daqui em diante). Junta-se ainda uma quantidade generosa de couve-flor em pickle. Digamos, umas duas cabeças avantajadas. Pica-se bem.
Juntam-se 2 mãos-cheias de tremocinhos, com casca e tudo, e misturam-se bem, para os tremoços ficarem envolvidos no paté.
Finalmente, mistura-se tudo com a massa, dando várias voltas, para a massa ficar bem coberta com o paté.
Come-se.

É delicioso, apanhar um tremoço durinho no meio da textura suave da massa e pastosa do paté!


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