Nova identidade

Pois é meus amigos, quem neste momento está a escrever neste blog é a D.ª Maria Gonçalves Prata, de 73 anos e natural do concelho de Castelo Branco. Finalmente cumpri a minha tão anunciada promessa de mudança de sexo. Não precisei de ir a nenhuma clínica da moda, nem tão pouco de uma cirurgia complexa de 12 horas. Bastou-me ir exercer o meu direito de voto. Votei hoje pelas 10 horas no liceu D. Duarte. De imediato, regressei a casa. Pelo caminho deu-se a transformação. Enquanto estava a conduzir e a coçar a tomatada, reparei que já não tinha lá nada. Quando cheguei a casa e tirei o cartão de eleitor e o B. I. do bolso reparei que tinha mudado de identidade. E porra, era feio como o caralho!!! Tinha pêlos no queixo, uma verruga no nariz e já me faltavam muitos dentes. Pois é, os tótós da mesa de voto trocaram o meus documentos pelos de outra pessoa e só em casa é que reparei. São piores que cidadãos de leste. Não lhes chega o que lhes pagam para estarem na mesa de voto e decidiram fazer dinheiro em B. I. s falsos.

De qualquer modo, durante uns minutos ainda me passou pela cabeça "e se eu me tornasse mesmo numa mulher de 73 anos". A ideia pareceu-me genial! Saltar toda uma vida de trabalho. Passar da universidade para a reforma! Poder andar de transportes públicos à pala, passar férias no INATEL por truta e meia, gozar de uma reforma sem nunca ter feito ponta de um corno na vida (tipo alguns deputados e os administradores do grupo Caixa Geral de Depósitos)... É aliciante, não é? Será que daqui a 49 anos quando eu tiver na realidade 73, mas no B.I. uns proféticos 122 anos, seria eleito o ser humano mais velho do mundo? Talvez até tivesse direito a uma reportagem em directo no telejornal, comigo a apagar as velas do bolo e a apresentadora a dizer "vejam, esta senhora ainda tem fôlego para apagar todas as velas" e eu retorquiria "a carcaça está velha, mas o motor está como novo!". Mas depois também pensei "eh pá, e depois como é que eu me safo nas festas do idoso. Eu vou ser a cota mais enxuta que lá vai estar. É claro que os velhotes vão andar todos atrás de mim. Não que constituam um grande perigo. Já nem com o viagra lá vão. Mas babam-se sempre, mandam uns piropos e dão-me uns apalpões". Decidi de imediato ir trocar os cartões. Quando cheguei de novo à mesa de voto, os meus documentos não estavam lá. Olha que novidade. De certeza que a velhota que os levou sofre de Alzheimer e nem deu pela troca. Deixei lá os documentos dela e o meu contacto. Eles disseram que através da junta de freguesia resolviam o assunto e que amanhã já estaria tudo solucionado. "Uau!", pensei eu, "A junta de freguesia trata de tudo!". Se resolverem o assunto tão depressa como tapam os buracos na minha rua, talvez nunca mais volte a ser o Filipe Moreira de 24 anos. Tenho que me habituar à minha nova identidade. A senhora Maria Prata não vai aceitar a troca. Por que raio havia a senhora de querer voltar a ter 73 anos quando agora tem 24? Vai poder experimentar o cannabis, ver filmes porno e dar todas as quecas que deixou por dar durante o tempo do Salazar porque parecia mal e tinha que ir virgem para o casamento.

Agora eu é que estou bem fodido. Daqui a uns tempos estou algaliado num hospital e com um tubo a sair-me do nariz. Ora, que se foda! Só espero que o raio da mulher não tenha bicos de papagaio.