terça-feira, dezembro 27, 2005

O barbeiro

Pois é, estou a acabar de chegar do barbeiro. Hoje foi delirante. Pela primeira vez não se falou de futebol. Hoje a conversa foi mesmo sobre mulheres. Até que enfim. Eu não intervi muito. Ainda só vou àquele barbeiro há 2 anos. Acho que é preciso um desconhecido mexer-nos no cabelo pelo menos durante 10 anos para podermos falar abertamente com ele sobre o que quer que seja.
Tudo começou com um cliente que pediu “não mo corte muito, já estou a ficar careca”. O barbeiro, qual Master of Ceremony de serviço, retorquiu “já não precisa de cabelo, o tempo dos engates já lá vai”. “Pois é, pois é”, disse o outro, “Agora já só com a patroa lá de casa e já nem é todos os dias”.
A conversa prometia aquecer, mas depois começaram com a treta da libertinagem de hoje em dia, que é só divórcios e que as mulheres portam-se cada vez pior. Um gajo que também estava à espera para cortar o cabelo acrescentou “Desde que começaram a dar-lhes mais liberdade isto tem vindo a piorar”. Até aqui não me manifestei, ou melhor, esboçava sorrisos amarelos de circunstância. Mas então lá começaram a deixar-se de falsos moralismos e apimentaram a conversa. Diz um outro indivíduo “elas agora têm que ser mais atrevidas. Não viram lá em cima em Bragança! Aquelas brasileiras davam cabo daqueles homens. Elas reviram um homem. Têm o diabo no corpo. E as mulheres portuguesas, porque são púdicas, não fazem o que elas fazem e ainda se revoltam contra as brasileiras”. Neste momento entrei na conversa “realmente foi ridículo, elas deviam era revoltar-se contra os homens que as traem”. Ninguém pareceu partilhar da minha opinião. Calei-me. Eles lá continuaram. Um sujeito mais malandreco (há sempre um gajo destes quando se vai ao barbeiro) resolveu partilhar a sua experiência: “eu quando estive na América conheci lá umas brasileiras, cum caraças. Que doidas! Aquilo é que é. Até aí só tinha conhecido gajas más na cama”. O barbeiro e o outro disseram que nunca tinham tido nada com brasileiras. Eu nesta fase já só acenava com a cabeça e ria. O gajo que estava a cortar o cabelo afirmou “nunca tive uma brasileira, mas ando de olho na que foi trabalhar ali pó café”. Inquiriu logo o barbeiro exaltado “qual? Qual? A do café aqui de baixo? A gaja é boa, a gaja é boa! No outro dia veio aqui à minha filha cortar o cabelo. Eu disse-lhe para ir aparecendo que eu ainda lhe ensinava umas coisas. Ela tem ar de maluca, ela tem ar de maluca!”
Isto foi demais. Eu já me ria dos gajos, mas eles pensavam que era das histórias que eles contavam. Será que quando eu for cota vou contar assim a minha vida à frente de tipos que não conheço de lado nenhum?


Site Counter Hit Counter