quarta-feira, agosto 31, 2005

Acabem com as eleições

As campanhas eleitorais são momentos fantásticos. Aparecem sempre aquelas promessas capazes de revolucionarem o país e de mobilizarem os eleitores a votarem em massa.
Nas últimas legislativas, a promessa que mais me maravilhou foi a de juntar todos os cartões num só. Finalmente acabou aquela pergunta que fazemos num qualquer “guichet” sempre que nos pedem um cartão: “É este?”. Do outro lado do vidro respondem-nos exasperados, cientes de que somos uns inúteis: “É o outro! É o outro! O azul! É o azul!!!”. Voltamos a procurar e acabamos por desistir. “Olhe devo tê-lo deixado em casa”. (Preparamo-nos para ouvir um sermão igual aos que ouvíamos em criança). “Como é que se esqueceu do cartão azul! Não sabe que tem que andar sempre consigo?!”.
Agora, parece que tudo isso vai acabar. Bravo candidato José Sócrates! No futuro, quando me pedirem qualquer coisa, entrego-lhes logo aquele único cartão e digo: “Procure-o. Deve estar aí. Ando sempre com todos os meus cartões.”
Portanto, a minha vida como que se tinha aclarado. Tinha já decidido em quem ia votar quando, no outro dia, fui almoçar à cantina da minha faculdade. Duas mesas à frente da minha estava um tipo com ar de Art Garfunkel a palitar os dentes com o B. I. (estes seres existem mesmo). A minha convicção ruiu. Resolvi pensar. Em poucos segundos deslindei o caso óbvio de favorecimento político que estava na génese desta medida de José Sócrates. Tentarei, de seguida, explanar o meu raciocínio. Ora, não é difícil de adivinhar que esse cartão teria, certamente, a grossura do cartão multibanco ou da carta de condução. É a moda e o princípio estético por que se rege a malta da Unicre! Assim sendo, a próxima questão que se impõe é “Quem será o único português que sairá beneficiado com isso?”. Pois é, o Nuno Guerreiro. Mais uma vez os interesses mesquinhos apoderam-se deste lodo que é a política à portuguesa.
Agora, voltei à estaca zero e não sei, de novo, em quem devo votar.


P.S.: Não foi abordada a temática do chumaço que uma carteira apinhada de cartões confere ao bolso traseiro, (normalmente o direito), das calças de muitos homens portugueses.


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