quinta-feira, janeiro 25, 2007

O sentimento de culpa

Quando penso em alguém realmente desastrado, ocorre-me o meu pai. É um verdadeiro Homer Simpson. Ontem, voltou a partir qualquer coisa cá em casa, penso que uma jarra de porcelana. Não sei como é que ele consegue. Muitos desses objectos com que a minha mãe e as mulheres, em geral, gostam de ornamentar as casas, não têm qualquer tipo de utilidade para além da sua função estética. Como tal, não são manuseados. Mas o meu pai tem esse super poder de partir objectos que ninguém usa e que apenas são tocados pelo espanador do pó. Um verdadeiro elefante numa loja de porcelana! E felizmente é meu pai! É muito melhor do que ter por pai um ser insosso. Quando o vejo aproximar-se da minha mãe, cabisbaixo, referindo apenas “Partiu-se uma jarra!”, não consigo deixar de morder o lábio e disfarçar um sorriso porque, nestes casos, temos que estar do lado das mães. Ninguém quer ver a matriarca realmente “virada do avesso”! E quando parece que o caso está, por fim, sanado, o meu pai, talvez impulsionado pelo seu sentimento de culpa, retorna à sala com os cacos na mão e um tubo se super-cola 3, como que disposto a entreter-se com um “puzzle” durante o serão. Diz ele, “Eu colo isto!”. É nestes momentos que saio da sala e, mal ainda cheguei ao corredor, percebo que a minha mãe já lhe vai dizendo “A jarra partiu-se! Está partida! E o que mais irrita uma mulher é esse tubinho de cola! Por acaso pensarás que esta casa é algum museu romano?”
Nunca averiguei o que vou dizer de seguida, até porque estes incidentes logo se esquecem, mas imagino o meu pai, na manhã seguinte, a percorrer as ruas da baixa em busca de uma jarra exactamente igual. No entanto, contrariado e cogitando, bem lá no fundo “Porra! Se me tivessem deixado, eu teria mesmo sido capaz de fazer milagres com aquele tubinho de cola!”


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